quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Daniel Arsham é um artista conceptual com particular incidência na criação de instalações progressistas que alteram a mente, que seduzem de imediato e conduzem a uma intriga profunda e a pensamentos, por vezes, contraditórios. Esta peça, intulada "Foot Psychedelic Tunnel Across Gallery" é composta por túneis de 90 metros de comprimento , que são gradualmente transformados a partir de formas buracos irregulares num recorte de uma silhueta humana , como se aprofunda a passagem. Localizado no Museu SCAD (Savannah, EUA), na Galeria Pamela Elaine Poetter, Arsham utiliza falso cimento para criar a ilusão de uma via...obscura.







 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016



As melhores cartas de amor, as melhores declarações são aquelas que nunca foram enviadas, aquelas que ficaram na memória de quem, um dia, pensou escrevê-las mas que, por serem demasiado lamechas, ou porque a oportunidade, entretanto, perdeu-se, nunca rumaram ao destinatário.
São aquelas que não foram escritas, ou sequer ditas, mas foram vividas, cartas onde mais do que palavras suspiradas do coração, pensadas até à exaustão, foram adivinhadas em cada ínfimo momento, invisível aos olhos de quem nunca amou. 
Os que mais escreveram o amor, poetas e prosadores, fizeram-nos por um de dois motivos: ou tentaram adivinhá-lo porque nunca o tiveram, ou, se o tiveram, morreram a procurar descrevê-lo com minúcia, falhando todos redondamente, concluindo que o que viveram foi infinitamente maior do que aquilo que escreveram.
Até porque não existe amor, existem amores, um para cada um de nós, um para cada definição que tentamos fabricar para expressão esse sentimento tão pessoal que encontrar dois seres que o encarem exactamente da mesma forma será reconhecer que algum dia foi descoberta a definição perfeita para o verbo amar.
E sem certezas vamos amando, mais, menos, juntos, acompanhados, a sós. Morreremos sem saber se o fizémos da melhor forma e, quase todos, concluirão que o fizeram da melhor forma que conseguiram. Às vezes sofrendo por ele, outras vivendo por ele, entre arco-iris e sombras, à flor da pele ou lá bem no fundo, o amor, em algum momento, fez parte de todos e cada um de nós. E até os piores terão tido uma qualquer Eva Braun.
Assim, sem rosas ou adereços, sem declarações ou definições, mais ou menos exactas, mais ou menos pessoais, também eu vou amando. Na minha forma de amar, ora contida, ora desmesurada, mas sem sequer saber se a fórmula correcta se se aplica no caso. Somos todos autodidactas na matéria, por isso os falhanços, estrondosos ou insignificantes, não passam de quedas naturais de quem ainda agora continua a aprender a andar.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016


O mundo rapper não é dos meus preferidos. Preconceituoso, ainda mantenho que a criatividade musical deste estilo é demasiado limitada, preguiçosa até; mesmo que na composição de letras, o rap, ou hip-hop, tenha sido responsável por algumas das mais importantes alterações na música contemporânea.
Existem minúsculas excepções, como 50 Cent., Snoop Dogg ou Jay-Z, que escapam à razoabilidade e mediania que leva ao esquecimento do eventual virtuosismo do rap. E depois há Kanye West. Alguém que passou para além do rap e é, exactamente tudo aquilo que ele próprio diz de si, ou seja, não há melhor, nem mais perfeito.
West pensa grande, muito grande, e tem motivos para isso. Ainda ontem, no Madison Square Garden, naquilo que seria um dia para a Adidas brilhar, com a apresentação da "Yeezy Season 3", onde marcaram presença os mais mediáticos nomes de Nova Iorque e tudo à volta, o rapper, usou o seu computador e apresentou no novo disco: "The Life Of Pablo". Fuck Adidas, Kanye West in tha house...
Antes, atirou marketing para a cara do mundo, e o mundo agradeceu e venerou, mas o marketing, ao contrário de Beyoncé e associadas, não resulta no vazio posterior e West entrega o que promete, sempre o fez, em grande. Entregou-o de imediato e sem rodeios, fustigando Taylor Swift, com "Famous", onde garante: "I made that bicth". E se Wes o diz o mundo acredita, mesmo que Swift apele para a incontrolável misogenia do rapper norte-americado. E o marketing continua, enquanto Kanye levita acima disto tudo.




"I just told Anna [Wintour] this backstage: to be the creative director of Hermès would be a dream of mine,", disse Kanye West no Garden. Podia sê-lo, porque ele pode ser o que bem quiser, até marido de Kardashian, e, ainda assim, ser aquele de quem se fala, o que se admira até à eternidade. Porque ele cumpre e entrega delírios palpáveis, mostra o jogo e não guarda cartas na manga.
Aliás, entre os contemporâneos, que deixaram para trás o século passado, Kanye West será dos poucos que consegue incorporar em si e na sua música, o gene do ícone, da lenda, da personagem rockstar pura e dura, adaptando, no entanto, para si uma nova estética assente no Séc. XXI.
"The Life Of Pablo" é para West um álgum de gospel, ainda assim, um gospel que não se ouve na igreja. Entende-se, West é, para si, Deus de si próprio, inspiração para o Universo, aliás, "I am God" é faixa presente. Uma vez mais, West idolatra-se tanto como nós o idolatramos, é justo. E as enigmáticas "TLOP", que surgiram por antecipação no Twitter do rapper, fazem agora sentido, tanto como "The Life Of Pablo" faz, para West e para nós convertidos à música perfeita de quem é maior do que o próprio rap.



domingo, 7 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016


Quando, no arranque do Séc. XXI, os islandeses Sigur Rós, foram entrando nos nossos sonhos, em Portugal, havia uma espécie de seita secreta que os escutava com devoção religiosa e secreta como quem procura guardar para si o tesouro mais precioso da humanidade. Como guardiões que os protegiam das massas, glorificando a pureza árida daquele som, foram-se multiplicando, incapazes de esconder "Agaetis Byrjun" da superfície do nosso território. Para trás já havia "Von" e "Von Brigôi" que apenas chegariam até nós mais tarde. Nós os profanos.
Isaiah Berlin disse uma vez: "Quando os anjos tocam para Deus, eles tocam Bach; entre si, tocam Mozart". Isaiah não conheceu os Sigur Rós, caso contrário, provavelmente concordaria que em matéria celestial, eles constariam na playlist angelical com a mesma carga demoníaca com que Mozart cativava as pequenas criaturas. Isaiah talvez concordasse que os Sigur Rós são a banda mais importante do Séc. XXI, até ao momento, pelo menos.
Em 2001, Jónsi e os seus anjos aterraram num CCB quase esgotado para ouvir algo que era quase incompreensível. Os próprios inventores do hopelandish não eram capazes de explicar ao comum mortal de onde surgiam os sons que fabricavam. A sala transbordava de expectativa e de uma estranha reverência a uns músicos alienígenas que, julgo, ainda existiam apenas na cabeça de uns quantos. Seriam palpáveis?
Na altura, Jónsi era um miúdo assustado por ter sido o escolhido para trazer a mensagem divina. Não enfrentou o público com o olhar, sempre que pôde voltou-lhe as costas, e foi soltando notas atrás de notas, sons atrás de sons, fazendo o público ficar à beira de uma explosão emotiva incontrolável. A música era quase inatingível, invadia a alma, a mente, levava ao choro, à vertigem, à miragem e a um sonho profundo de onde ninguém queria acordar.


Foram duas horas de culto, onde nem os sacerdotes pareciam escapar ao transe. Os sigur Rós não acreditaram no que tinham acabado de fazer, nem o público conseguia verbalizar a ideia de que eles existiam para além do som, para além de uma figura divina que existe mas não se vê; como Deus, ou os anjos. Silêncio, completo silêncio na sala. O concerto acabou e durante dois, três minutos, o público não conseguiu recuperar, voltar a pisar terra firme e o silêncio manteve-se - provavelmente Jónsi terá pensado, por uns segundos, que a sua música havia falhado rotundamente. Em décadas de concertos, não me lembro de alguma vez ter acontecido semelhante, tal como não me lembro de ter visto algo melhor. Terá sido o concerto da minha vida e da vida de muita gente.
Desde 2001, a capacidade criativa dos Sigur Rós manteve-se, proliferou para artes que estravasam a música, aquela música que, se quisermos simplificar, não é mais do que traduzir em pauta o divino e o terreno, explicar o que é ser islandês, de uma forma que nem Bjork conseguiu. Depois de Sigur Rós eu sei o que é ser islandês, eu sou islandês porque o sinto. Mas Jónsi cresceu, habituou-se à fama da sua música e da sua figura, lidou com a indústria e a história alterou-se um pouco. Há um depois de "Takk" (2005) e um antes de "Takk". Os Sigur Rós perderam inocência, tocaram a terra com os pés e, pior que isso, o Mundo descobriu-os e quase os devorou. São divinos mas já incorporam pecados. Ainda assim...


Os Sigur Rós foram confirmados no "Primavera Sounds", o único festival que, em Portugal, verdadeiramente, continua a faler a pena (e disto falarei outro dia). Será, muito provavelmente, um fiasco. Eles são uma banda indoor, demasiado intimista, para convencer um público de massas, sedento de muito em pouco tempo, de cerveja, de selfies e euforias laterais. Nunca serão os Sigur Rós capazes de silenciar, de explodir almas como quem sopra um dente de leão. Será um fiasco, como foi Anthony & The Jonhssons na edição passada. A figura delicada de Anthony foi lançada na arena e devorada por uma multidão sem tempo para ouvir o sangue a correr nas veias, o choro de um coração sofrido ou a desilusão de um Mundo negro. Anthony e Jónsi são feitos da mesma matéria e o público, aquele público enfurecido e sequioso não lhes perdoa a audácia de levarem para palco aquele belo que não é o belo que quem chega cedo para ouvir PJ Harvey ou The Nationals costuma procurar.
Elefantes numa loja de loiças...





quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016