As melhores cartas de amor, as melhores declarações são aquelas que nunca foram enviadas, aquelas que ficaram na memória de quem, um dia, pensou escrevê-las mas que, por serem demasiado lamechas, ou porque a oportunidade, entretanto, perdeu-se, nunca rumaram ao destinatário.
São aquelas que não foram escritas, ou sequer ditas, mas foram vividas, cartas onde mais do que palavras suspiradas do coração, pensadas até à exaustão, foram adivinhadas em cada ínfimo momento, invisível aos olhos de quem nunca amou.
Os que mais escreveram o amor, poetas e prosadores, fizeram-nos por um de dois motivos: ou tentaram adivinhá-lo porque nunca o tiveram, ou, se o tiveram, morreram a procurar descrevê-lo com minúcia, falhando todos redondamente, concluindo que o que viveram foi infinitamente maior do que aquilo que escreveram.
Até porque não existe amor, existem amores, um para cada um de nós, um para cada definição que tentamos fabricar para expressão esse sentimento tão pessoal que encontrar dois seres que o encarem exactamente da mesma forma será reconhecer que algum dia foi descoberta a definição perfeita para o verbo amar.
E sem certezas vamos amando, mais, menos, juntos, acompanhados, a sós. Morreremos sem saber se o fizémos da melhor forma e, quase todos, concluirão que o fizeram da melhor forma que conseguiram. Às vezes sofrendo por ele, outras vivendo por ele, entre arco-iris e sombras, à flor da pele ou lá bem no fundo, o amor, em algum momento, fez parte de todos e cada um de nós. E até os piores terão tido uma qualquer Eva Braun.
Assim, sem rosas ou adereços, sem declarações ou definições, mais ou menos exactas, mais ou menos pessoais, também eu vou amando. Na minha forma de amar, ora contida, ora desmesurada, mas sem sequer saber se a fórmula correcta se se aplica no caso. Somos todos autodidactas na matéria, por isso os falhanços, estrondosos ou insignificantes, não passam de quedas naturais de quem ainda agora continua a aprender a andar.
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