sexta-feira, 20 de maio de 2016

Timeline

Antes do resto,
sim, a Sinead O'Connor apareceu



Os concertos sucederam-se e, por isso, é preciso ir por partes, ou seja, cronologicamente.
Peter Murphy esteve no Porto, na Casa da Música, e com um concerto que durou menos de uma hora e meia, sem direito a encore, o músico confirmou que o front-leader dos Bauhaus já morreu há muito.
Longe vão os tempos em que o músico rumou ao Porto, deixou levar-se ao Pinguim, mergulhou numa orgia de Vinho do Porto, ficou fixado na música do Carlos do Carmo e uivava "os putos..., os putos", enquanto nos calava a todos dizendo ao roadmenager: "Re-schedule the fucking concert!!!". O concerto não foi re-agendado e, no Rivoli, Murphy fez cair uma bancada, de onde resultaram alguns feridos ligeiros e, no final, perante a concentração de público na Praça D. João I, surgiu à janela do Rivoli com uma guitarra, fez um encore quase imperceptível e distribuiu... pão torrado. Nessa altura, Peter Murphy já não era sequer um Bauhaus mas o seu odor continuava lá e, por isso, valia sempre a pena. Não foi o caso, na Casa da Música.


A sul, não valerá muito a pena escrever sobre Bruce Springsteen, no Rock in Rio. The Boss cumpriu como ícono que é, como nome grande que sempre foi. Voz sofrida, sentida, presença robusta, rude, emotiva, de uns Estados-Unidos duros, pouco estrelados, yet... nunca soube tocar guitarra, mas, who cares...?
No concerto houve mais pontos de interesse, outros ângulos mais importantes. Como a ausência de pausas entre temas, impedindo-nos de respirar, de sentir ou sequer parar para digerir os socos no estômago que nos iam sendo dados. Mas quem irrompeu na Bela Vista? Um punhado de músicos - a E Street Band - com mais de 60 anos capazes de mostrar aos piegas de hoje que o rock não é para meninos, nem sequer para contemplar multidões. O rock é chegar e debitar com mestria e os velhos (como os AC/DC, os Stones, Iggy, etc) fazem-no como ninguém, aliás, só eles o sabem fazer porque têm cicatrizes e estrada onde se engole o pó e se come nada, bem antes das limusines e das massagens ou até do luxo de ter, como Springsteen teve, um teleponto que lhe recordava as letras. E no meio há uma figura sombria, demasiado sombria, demasiado importante, demasiado genial: Little Stevie. Bruce confia nele como confia na mãe, precisa dele como precisa de comer e Stevie, figura que rasteja de forma repugnante pelo palco, encerra em si toda a mestria da banda e sem ele The Boss, seria menos... bossy.


 Mas vamos ao que interessa. Os Xutos & Pontapés.
A banda não precisa de actuar em pleno para conquistar o tuga festivaleiro e os outros. São muitos anos na estrada a ganhar o calo como Spriengsteen e, por cá, merecem estar no topo.No entanto, aqui o caminho para a lenda, - como Bruce -, ainda que no espaço nacional, parece comprometido. Ontem, em concerto, confirmou-se que não é apenas o Bauhaus, Peter Murphy, que morreu. Nos Xutos, apenas vivem Kalú (talez graças à Xeila) e João Cabeleira. Tim morreu, Zé Pedro morreu, Gui e Zé Leonel não contam. Provavelmente, seria a altura dos Xutos fazerem como os AC/DC e trocarem de vocalista porque este não está surdo mas está sem voz; perdeu gás, faz pausas demasiadas, está pesado, não se mexe, restam-lhe os dedos para continuar a escrever bons temas. Quanto a Zé Pedro, um queque não pode rockar, um convertido à vida saudável não pode rockar. Mas nem tudo foi mau ou displicente. Kalú não abranda permanece bruto e a cheirar mal mas Cabeleira, sim, Cabeleira é o orgasmo dos Xutos e nas versões escolhidas para ontem tudo pareceu feito para ele. O homem mostrou-se cada vez melhor e foi dono de tudo, terá sido, provavelmente, o seu melhor concerto da última década. Os Xutos têm alguém que ainda é Xutos e isso tranquiliza-nos.

1 comentário:

  1. Ainda bem que vens aqui contar tudo :)

    Sobre os Xutos, em relação ao Tim sou da mesma opinião…já o Zé Pedro depois do que passou, só pode mesmo ter-se convertido a uma vida saudável, senão o resultado pode ser catastrófico! Mas como tu dizes vida saudável e Rock …

    (já agora qual será o elixir que os Rolling Stones tomam, principalmente o Mick Jagger?! Pilhas Duracell não serão com certeza!)
    Bom fim de semana aí pela cidade do Rock :)

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