O fotógrafo Miroslav Tichy apenas se
tornou conhecido na República Checa recentemente, depois de ter sido
reconhecido no estrangeiro. As suas fotografias, pouco usuais, foram
exibidas em várias galerias de Londres, Nova Iorque e Zurique e,
apesar da sua absoluta falta técnica e qualidade, os visitantes e os
críticos ficaram impressionados. As fotos são agora vendidas por
valores que ascendem aos dez mil euros.
Com quase 80 anos, Tichy foi sempre
olhado como o verdadeiro excêntrico pelos vizinhos em Kyjov, uma
pequena cidade checa. O seu trabalho reflecte a obssessão pelo corpo
feminino. Mas enquanto outros fotógrafos pedem às mulheres para
posarem, usam os melhores equipamentos e muitos cuidados no
arquivamento das fotos, Tichy faz o oposto.
Ele costumava esconder-se nos arbustros
e tirar fotografias de roupa interior de mulheres e raparigas com as
suas câmaras feitas artesanalmente. As fotos, depois de
deselvolvidas, eram deitadas fora e Tichy não queria mais saber
delas.
“Todas demonstram observações muito
cuidadas e atentas das mulheres de Kyjov, no dia-a-dia e nas
trivialidades que fazem. Mas depressa apercebemo-nos que essas
trivialidades, como alguém sentado num banco, mulheres à espera do
autocarro, alguém a tirar a t-shirt numa piscina são, de alguma
forma, extraordinárias. Tichy conseguia dar a estas banalidades um
sentimento excepcional e raro. Apenas uma parte de um corpo de
mulher, nas suas fotografias, pode parecer algo esotérico. Há
imensas revistas que oferecem muito mais nudez do que Tichy mas ele é
diferente. As coxas de uma mulher, entre os joelhos e a saia ou um
fato-de-banho noas suas fotos parecem, de alguma forma, misteriosas”,
diz Radek Horacek, o director da Brno House of Art que, actualmente,
tem patente uma exposição do trabalho de Tichy.
“É como se um rapaz de onze anos se
apaixonasse, roubasse uma foto da rapariga da classe e a colocasse no
seu diário. Tichy até fazia esboços e desenhava frames com lápis
ou caneta. Algumas fotos foram tiradas da televisão, algumas foram
largadas por aí. Alguns românticos dizem até que há rastos de
pequenas mordeduras de ratos nas fotos deixadas numa total confusão”.
Nos anos 40, Tichy estudou na Academia
de Artes de Praga mas depois da chegada do comunismo, em 1948, à
Checoslováquia, ele desistiu e regressou à Moravia. O artista
solitário começou a pintar, a desenhar figuras e finalmente passou
para a fotografia de forma defintiva com um único mote: mulheres.
Nos anos 60 chegava a fazer cerca de 90 fotos por dia. Desconhecido e
sem ser notado ele comportava-se como um voyeur tentando captar um
precioso momento.
“Quando eu era um miúdo a minha avó
costumava dizer-me: 'lava as mãos porque senão ficarás igual ao
Mirek Tichy'. Para a minha avó era um exemplo proibido. Para mim
sempre foi alguém magnético”, conta Roman Buxbaum, a pessoa que
deu Tichy a conhecer ao Mundo. O amigo de infância do fotógrafo
emigrou para a Suiça com a família, passados muitos anos regressou,
descobriu as fotografias e começou a exibi-las pelo Mundo.
“Hoje em dia há muitos artistas a
fazer fotografia. Eeles têm o mais moderno e digital equipamento e o
melhor software de computador. Todos tentam fazer com que as suas
fotos pareçam cruas, tentam torna-las documentos de uma realidade,
mas conseguiremos acreditar num universitário de trinta e poucos
anos? É simplesmente impossível, em particular se o compararmos com
o Miroslav Tichy. Ele esconde-se numcasaco sujo, mal-cheiroso e velho
atrás de muros e arbustros – tira fotografias de fragmentos de
nudez feminina ou passos de uma mulher que desce a rua...”
CREDITS:
Miroslav Tichy
Wired