quinta-feira, 14 de abril de 2016

Miroslav Tichy: O fotógrafo imundo

O fotógrafo Miroslav Tichy apenas se tornou conhecido na República Checa recentemente, depois de ter sido reconhecido no estrangeiro. As suas fotografias, pouco usuais, foram exibidas em várias galerias de Londres, Nova Iorque e Zurique e, apesar da sua absoluta falta técnica e qualidade, os visitantes e os críticos ficaram impressionados. As fotos são agora vendidas por valores que ascendem aos dez mil euros.


Com quase 80 anos, Tichy foi sempre olhado como o verdadeiro excêntrico pelos vizinhos em Kyjov, uma pequena cidade checa. O seu trabalho reflecte a obssessão pelo corpo feminino. Mas enquanto outros fotógrafos pedem às mulheres para posarem, usam os melhores equipamentos e muitos cuidados no arquivamento das fotos, Tichy faz o oposto.
Ele costumava esconder-se nos arbustros e tirar fotografias de roupa interior de mulheres e raparigas com as suas câmaras feitas artesanalmente. As fotos, depois de deselvolvidas, eram deitadas fora e Tichy não queria mais saber delas.


“Todas demonstram observações muito cuidadas e atentas das mulheres de Kyjov, no dia-a-dia e nas trivialidades que fazem. Mas depressa apercebemo-nos que essas trivialidades, como alguém sentado num banco, mulheres à espera do autocarro, alguém a tirar a t-shirt numa piscina são, de alguma forma, extraordinárias. Tichy conseguia dar a estas banalidades um sentimento excepcional e raro. Apenas uma parte de um corpo de mulher, nas suas fotografias, pode parecer algo esotérico. Há imensas revistas que oferecem muito mais nudez do que Tichy mas ele é diferente. As coxas de uma mulher, entre os joelhos e a saia ou um fato-de-banho noas suas fotos parecem, de alguma forma, misteriosas”, diz Radek Horacek, o director da Brno House of Art que, actualmente, tem patente uma exposição do trabalho de Tichy.


“É como se um rapaz de onze anos se apaixonasse, roubasse uma foto da rapariga da classe e a colocasse no seu diário. Tichy até fazia esboços e desenhava frames com lápis ou caneta. Algumas fotos foram tiradas da televisão, algumas foram largadas por aí. Alguns românticos dizem até que há rastos de pequenas mordeduras de ratos nas fotos deixadas numa total confusão”.
Nos anos 40, Tichy estudou na Academia de Artes de Praga mas depois da chegada do comunismo, em 1948, à Checoslováquia, ele desistiu e regressou à Moravia. O artista solitário começou a pintar, a desenhar figuras e finalmente passou para a fotografia de forma defintiva com um único mote: mulheres. Nos anos 60 chegava a fazer cerca de 90 fotos por dia. Desconhecido e sem ser notado ele comportava-se como um voyeur tentando captar um precioso momento.


“Quando eu era um miúdo a minha avó costumava dizer-me: 'lava as mãos porque senão ficarás igual ao Mirek Tichy'. Para a minha avó era um exemplo proibido. Para mim sempre foi alguém magnético”, conta Roman Buxbaum, a pessoa que deu Tichy a conhecer ao Mundo. O amigo de infância do fotógrafo emigrou para a Suiça com a família, passados muitos anos regressou, descobriu as fotografias e começou a exibi-las pelo Mundo.



“Hoje em dia há muitos artistas a fazer fotografia. Eeles têm o mais moderno e digital equipamento e o melhor software de computador. Todos tentam fazer com que as suas fotos pareçam cruas, tentam torna-las documentos de uma realidade, mas conseguiremos acreditar num universitário de trinta e poucos anos? É simplesmente impossível, em particular se o compararmos com o Miroslav Tichy. Ele esconde-se numcasaco sujo, mal-cheiroso e velho atrás de muros e arbustros – tira fotografias de fragmentos de nudez feminina ou passos de uma mulher que desce a rua...”








CREDITS:
Miroslav Tichy
Wired

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