quarta-feira, 25 de maio de 2016

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Save your money

Se eu disser que a Fergie é uma merda
este texto perde credibilidade?


A Fergie é, de facto, uma merda. Nunca foi grande coisa e só existiu, enquanto Black Eyed Peas, porque um senhor aka Wil I Am e restante companhia a deixou apanhar o barco. Por isso, no Rock In Rio, o concerto foi deplorável, numa apresentação medíocre de covers inapropriadas, de remisturas dos sons que a tornaram conhecida e de uma exibição corporal que nunca chegou para apagar o resto. É importante esquecer o mais rápido possível.

Seguiu-se Mika, um simpático mas sensaborão rapazito que não chateia ninguém a não ser o Jorge Fernando que foi arrastado para uma tentativa de colocar um libanês, que canta em inglês a reproduzir fados.
É importante sorrir mas esquecer depressa.



E pronto, havia chegado o momento de ver que raio era afinal os Queen+Adam Lambert.
Eu gosto do Adam Lambert, ponto. Quanto ao concerto há que dividir as coisas.
Ele esteve bem a explicar que Freddy só há um e o que se trata ali, na tourneé europeia é uma espécie de tributo. Esclarecido humildemente o tema, Lambert foi demasiado tímido em palco, a voz é demasiado doce se a compararmos com Mercury e os improvisos não foram os melhores, tal como a exibição de guarda-roupa. No final, fica a sensação que Axl Rose está melhor nos AC/DC do que Lambert nos Queen.
Depois há the originals, Brian May e Roger Taylor - o baixista John Deacon deixou-se dessas coisas - que tiveram um surto nostálgico e não só e reactivaram a banda.
Quando era adolescente queria ser o Roger Taylor, fruto da minha relação com a bateria e uma banda rock de casa de banho. A banda era próxima dos U2, os tipos vestiam-se de preto, e eu andava ali a elogiar Taylor como o melhor baterista do mundo. Queria ser, agora já não queria, porque na Bela Vista, ele foi uma sombra do que era e colocou à sombra um segundo baterista, disfarçado de percurssionista para que pudesse recuperar o fôlego e errar as batidas sem que se desse por isso.
Aliás, a iluminação, inteligentemente, "apagou" do set o remanescente da banda, como tudo se tratasse, em exclusivo, de Lambert, Taylor e May. Lambert agradeceu-lhes no final, mas só isso, o resto havia sido um three mem show. Brian May continua um virtuoso, mas também vaidoso, tão vaidoso que incluiu solos longuíssimos de guitarra em tudo o que era música. Cumpriu e pecou, por excesso. 
Como produto final a coisa resulta, mesmo sem ser preciso ceder à tentação de exibir Freddy Mercury na tela. Resulta porque as canções resultam, resultarão sempre e conseguem a proeza de tornar um público de anémonas no melhor público do Mundo, como aconteceu ali. Lambert podia desafiar, May podia tirar a roupa e Taylor ir dormir mais cedo que o concerto resultaria, tal como resultaria se qualquer um destes fosse substituído pela Banda da Força Aèrea. 



O público talvez pudesse ter poupado o dinheiro do segundo dia do Rock In Rio. Talvez tivesse trocado o dia pelo que se segue, porque Korn estão a chegar e os Hollywood Vampires também, sim, os que têm Joe Perry e Alice Cooper, e uma espécie de cheerleader para tornar a coisa menos... bloody.


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Timeline

Antes do resto,
sim, a Sinead O'Connor apareceu



Os concertos sucederam-se e, por isso, é preciso ir por partes, ou seja, cronologicamente.
Peter Murphy esteve no Porto, na Casa da Música, e com um concerto que durou menos de uma hora e meia, sem direito a encore, o músico confirmou que o front-leader dos Bauhaus já morreu há muito.
Longe vão os tempos em que o músico rumou ao Porto, deixou levar-se ao Pinguim, mergulhou numa orgia de Vinho do Porto, ficou fixado na música do Carlos do Carmo e uivava "os putos..., os putos", enquanto nos calava a todos dizendo ao roadmenager: "Re-schedule the fucking concert!!!". O concerto não foi re-agendado e, no Rivoli, Murphy fez cair uma bancada, de onde resultaram alguns feridos ligeiros e, no final, perante a concentração de público na Praça D. João I, surgiu à janela do Rivoli com uma guitarra, fez um encore quase imperceptível e distribuiu... pão torrado. Nessa altura, Peter Murphy já não era sequer um Bauhaus mas o seu odor continuava lá e, por isso, valia sempre a pena. Não foi o caso, na Casa da Música.


A sul, não valerá muito a pena escrever sobre Bruce Springsteen, no Rock in Rio. The Boss cumpriu como ícono que é, como nome grande que sempre foi. Voz sofrida, sentida, presença robusta, rude, emotiva, de uns Estados-Unidos duros, pouco estrelados, yet... nunca soube tocar guitarra, mas, who cares...?
No concerto houve mais pontos de interesse, outros ângulos mais importantes. Como a ausência de pausas entre temas, impedindo-nos de respirar, de sentir ou sequer parar para digerir os socos no estômago que nos iam sendo dados. Mas quem irrompeu na Bela Vista? Um punhado de músicos - a E Street Band - com mais de 60 anos capazes de mostrar aos piegas de hoje que o rock não é para meninos, nem sequer para contemplar multidões. O rock é chegar e debitar com mestria e os velhos (como os AC/DC, os Stones, Iggy, etc) fazem-no como ninguém, aliás, só eles o sabem fazer porque têm cicatrizes e estrada onde se engole o pó e se come nada, bem antes das limusines e das massagens ou até do luxo de ter, como Springsteen teve, um teleponto que lhe recordava as letras. E no meio há uma figura sombria, demasiado sombria, demasiado importante, demasiado genial: Little Stevie. Bruce confia nele como confia na mãe, precisa dele como precisa de comer e Stevie, figura que rasteja de forma repugnante pelo palco, encerra em si toda a mestria da banda e sem ele The Boss, seria menos... bossy.


 Mas vamos ao que interessa. Os Xutos & Pontapés.
A banda não precisa de actuar em pleno para conquistar o tuga festivaleiro e os outros. São muitos anos na estrada a ganhar o calo como Spriengsteen e, por cá, merecem estar no topo.No entanto, aqui o caminho para a lenda, - como Bruce -, ainda que no espaço nacional, parece comprometido. Ontem, em concerto, confirmou-se que não é apenas o Bauhaus, Peter Murphy, que morreu. Nos Xutos, apenas vivem Kalú (talez graças à Xeila) e João Cabeleira. Tim morreu, Zé Pedro morreu, Gui e Zé Leonel não contam. Provavelmente, seria a altura dos Xutos fazerem como os AC/DC e trocarem de vocalista porque este não está surdo mas está sem voz; perdeu gás, faz pausas demasiadas, está pesado, não se mexe, restam-lhe os dedos para continuar a escrever bons temas. Quanto a Zé Pedro, um queque não pode rockar, um convertido à vida saudável não pode rockar. Mas nem tudo foi mau ou displicente. Kalú não abranda permanece bruto e a cheirar mal mas Cabeleira, sim, Cabeleira é o orgasmo dos Xutos e nas versões escolhidas para ontem tudo pareceu feito para ele. O homem mostrou-se cada vez melhor e foi dono de tudo, terá sido, provavelmente, o seu melhor concerto da última década. Os Xutos têm alguém que ainda é Xutos e isso tranquiliza-nos.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Sinead O'Connor dada como desaparecida

A cantora não regressou
de um passeio de bicicleta


A polícia está à procura de Sinead O'Connor que foi dada como desaparecida na zona de Chicago, segundo estão a noticiar vários media norte-americanos. 

A polícia de Wilmette, Illinois, já libertou um comunicado sobre o caso: "A polícia de  Wilmette está a tentar confirmar o bem-estar de Sinead O'Connor. O'Connor foi vista fora da área de Wilmette, num passeio de bicicleta, perto das seis da manhã e não regressou. Um telefonema deu conta da preocupação com o seu bem estar e, por agora, não há mais informações".
De acordo com o TMZ, o alerta da polícia inclui a caracterização de Sinead O'Connor como sendo uma "missing-suicidal", e adianta ainda que a cantora foi vista numa bicicleta motirizada Raleigh com um cesto cor-de-rosa, vestindo "uma parka preta, calças de pele pretas e uma sweat-shirt onde se lia, nas costas, 'Ireland on the back'".
 

No passado mês de novembro, um porta-voz de Sinead O'Connor reconheceu que a cantora não andava bem e recebia tratamento,, isto depois de surgirem rumores nas redes sociais que davamconta que a cantora poderia tentar o suicídio novamente.
 

Novas aflições

O Rock in Rio está de novo em Lisboa...


 ... com promessas de mais uma inesquecível Cidade do Rock e um alinhamento tão bom, ou melhor, do que os anteriores. Gangas e bugigangas são esperadas nas tendinhas patrocinadas por tudo quanto é marca. Inovações, gritinhos e muita ecologia. Mas a novidade maior é, como não podia deixar de ser, uma "app". Mas esta aplicação para smartphones é mais revolucionária do que se pode imaginar e, adivinha-se uma verdadeira revolução para os festivaleiros.
A partir desta edição do Rock in Rio, antes de ir a uma casa de banho, existe uma "app" para saber em que zona há mais casas de banho disponíveis. Dizem os revolucionários criativos que através de sonares que "inspeccionam" os barulhos e o movimento em cada uma das casas de banho passa a ser possível informar onde há mais WCs disponíveis.
Por isso, quando estivermos hiper-aflitos, num qualquer festival de verão, não devemos correr para um WC mas sim, procurar rede wi-fi, ou 3G, ligar o smartphone, as aplicação e ver para onde devemos correr, isto se até lá não tivermos feito pelas pernas abaixo.
O Rock in Rio é imperdível, nem que seja para experimentar a "app".

domingo, 15 de maio de 2016

De costas

Em Figueira de Castelo Rodrigo
debateu-se, de novo, a interioridade



É uma preocupação recorrente com, norma geral, receitas para a resolução baseadas em subsídios, apoios e maior investimento, aquela que, uma vez mais, foi debatida na pequena Figueira de Castelo Rodrigo. A interioridade. A necessidade de fixar população e aproximar os níveis de desenvolvimento dos existentes no litoral, foram conversados para terminar com um pedido: criar um plano de emergência capaz capaz de inverter o cenário de abandono e desertificação.

Há uns anos, a apresentação de um novo modelo da Peugeot levou-me, por 24 horas, à Sardenha. Por entre várias actividades milimetricamente planeadas, constou um jantar de convívio onde tive a sorte de me sentar ao lado de um octagenário descendente de Armand Peugeot que, confesso, não recordo o nome. A conversa acabou por fugir à enfadonha, confessou-me ele, história de família ou carros. O senhor Peugeot, chamemos-lhe assim, mesmo que tenha a certeza que o apelido havia-se perdido sem ter chegado ao seu nome, conhecia muito bem Portugal. Gostava, como todos gostam. Mas depressa explicou que era um país que nunca entendera muito bem.
"Passam demasiado tempo voltados para o mar, a olhar o horizonte, e isso atrasa-vos", considerou Peugeot. Os habituais argumentos de uma zona marítima potencialmente rica e a possibilidade de explorar este recurso não o comoveu, pelo contrário. Para o senhor Peugeot, estarmos voltados para o mar era o nosso defeito. "Deviam voltar-se para Espanha, dar as costas ao mar e olhar para onde existe gente", retorquiu. Na prática, aquilo que me dizia era que o actual litoral deveria ser o interior e as zonas em desenvolvimento deveriam estar próximas da fronteira, o mais próximas possível do resto da Europa. Aceitando a lógica de Peugeot, a Guarda seria mais apetecível do que o Porto, Bragança mais explorada que Lisboa.
Não me esqueci da posição de Peugeot e, friamente, esquecendo a melancolia de olhar para o mar como algo que nos corre no sangue, acabei por juntar-me a ele nessa opinião. O Atlântico deu-nos o passado e mantém-se como eterno futuro, já a Europa é o presente e a proximidade ao resto do nosso mundo, aquele de quem estamos sempre a falar mas apenas vemos... pelas costas.
Não terá, provavelmente, sido coincidência que a Peugeot Portugal (PSA) tenha escolhido Mangualde para instalar uma unidade de produção. Mangualde é, claramente, o equilíbrio entre o senhor Peugeot e o português, como eu, ou seja, fica a meio caminho do mar e de Espanha.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

O terceiro está aí (actualizado)

Os Stone Roses lançam hoje um novo tema,
o primeiro desde os anos 90.
O novo tema é lançado às oito da noite.


Os rumores começaram a espalhar-se após alguns pósteres com o icónico limão-logo ter sido colocado em revistas e montras de lojas de discos em Manchester, de onde são naturais. Apenas hoje os rumores confirmaram-se com um tweet da banda revelando: "THE STONE ROSES WILL RELEASE A NEW SINGLE TONIGHT AT 8PM".Não foi dada mais informação.
Apesar da banda ter-se reformulado ligeiramente para realizar alguns concertos, em 2012, passaram mais de 20 anos sobre o último álbum, "Second Coming", lançado em 1994.


 
 
 
 
Actualização (20h36):
All For One (new single) 



Somos todos carregadores de pianos.


terça-feira, 10 de maio de 2016

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Self-service: Calvin Klein

As belfies* que se tornaram high fashion.



 Calvin Klein construiu o nome na moda vendendo seco nos anos 90, mas um sexo diferente do que, até então se tinha visto. A identidade da marca escondeu tudo o que era passado; emagreceu, cortou cabelos e repudiou o sexy-glam dos 80s. Quando Kate Moss e Marky Mark se abraçaram, tornaram-se, ao mesmo tempo, a mais icónica campanha da Calvin, apresentando caras frescas e um não-estilo. Nao havia peles ou rendas, a única coisa que soletrava s-e-x-o foi o aperto entre eles.

Mais de uma década depois, Calvin Klein continua a capturar a sexualidade contemporânea e a criar rostos icónicos. A última campanha Primavera/Verão 2016 surgem estrelas imaginárias, via covergirls Abbey Lee Kershaw e Saskia de Brauw, juntamente com Klara Kristin e Kendall Jenner. O londrino Harley Weir assinou a campanha.




 *A belfie é um tipo de registo fotográfico que surgiu com o Instagram, tal como a selfie. O nome belfie resulta da junção da palavra "selfie" com "butt".

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Contemporâneo velho

Ir a um funeral de alguém
que não conhecemos pode
ser um ato de meditação


Havia, garanto, uma boa razão para estar presente naquele cemitério, mas a vontade era pouca, o tempo não ajudava, o do relógio e o outro. Ainda assim, havia tempo para um café, ali mesmo ao lado, num tasco que apenas o álcool deverá fazer esquecer os defuntos vizinhos não tomam pequenos almoços. Ao balcão, o café chega, e como em todos os locais onde somos intromissão, tal como nos funerais alheiros, o mais digno é mantermos os olhos baixos; não vemos ninguém, não olhamos para ninguém.

Foi o flyer que me chamou a atenção. Bom design e cores vivas onde o luto seria o mais apropriado.Centro de Meditação, anunciava-se. Retiros, aulas e workshops. palavras mágicas para a urbanidade que se exige a quem desconhece o vizinho, abusa do sushi e intromete-se no contemporâneo como se este fosse item indispensável no currículo.

Era penetra no funeral, no tasco e no flyer mas, estranhamente, depois das incompatibilidades que jurara existerem entre os três, reconheci-lhes afinidades. Talvez se mantivesse os olhos baixos e meditasse, a intromissão não o fosse.

Ainda tinha tempo, o caixão demorava a aparecer. Meti ao bolso o flyer para ler os detalhes. Foi o grafismo e as cores atrevidas. A bateria do telemóvel assustava, poupava-o, e, por isso, mantive os olhos baixos mas não meditei, voltei ao Centro de Meditação, e descobri-lhe o mais importante: budismo moderno.


O ecumenismo é a minha resposta religiosa, caso contrário, precisaria de misturar o catolicismo com o budismo e o resultado é, uma vez mais, incompatível. Suspeito que a minha lista de incompatibilidades é a mesma que a minha lista de moddus operandi. Ainda assim, a perplexidade instalou-se. Budismo Moderno. Questionei-me se seria algo parecido à refundação que Francisco vai cavando no catolicismo, mas ambas me parecem banhadas por águas poluídas pelas necessidades de marketing na angariação de fiéis, aproximando-se perigosamente a seitas feitas à medida. Budismo é budismo, catolicismo é catolicismo, islamismo é islamismo com aceitáveis variantes e interpretações que, no entanto, dificilmente comportam moderno como adjectivo.

O caixão chegou. Mantive o sentimento de intromissão - havia uma boa razão para lá estar -, mantive os olhos baixos mas a mente já voava nas asas de um budismo moderno, tão moderno que um Centro de Meditação de design elaborado desafia os fiéis de Tenzin Gyatso, também ele posto em causa, provavelmente por um monge metrossexual, de bíceps trabalhados, barba tratada na Barbearia Porto e que apenas usará manto laranja se algo parecido tiver desfilado no cubano Passeio do Prado. 

quinta-feira, 5 de maio de 2016

quarta-feira, 4 de maio de 2016

"O joelho da Joana voltou a sair do sítio durante o ensaio. É a terceira vez que acontece e, desta vez, ela até estava com a joelheira protectora. Eu estava atrás dela e a fazer um simples 'échappé', zás...ficou todo ao lado".


Enquanto isso, António Casalinho, vence o Youth Grand Prix, em Nova Iorque, segue para a Royal Ballet School, colhendo frutos de uma das melhores academias de dança do país, instalada na improvável Leiria.

A Annarella, que segue a escola cubana, levou cinco dos dez bailarinos portugueses ao mais importante concurso de dança para jovens, o Espaço Dança (Porto) levou três e o Conservatório Nacional, dois.

Na Covilhã, o bailarino Ricardo Runa, de 23 anos, fundou uma companhia de dança, há dois anos, trocando o contrato de bailarino profissional na Gwinnett Ballet Theatre (Atlanta, EUA) pela loucura do regresso e da invenção do Kayzer Ballet.

No Porto, Matosinhos e Gaia, o DDD (Dias Da Dança) reuniu dezenas de espectáculos de dança contemporânea, workshops e tertúlias, mostrando companhias nacionais e estrangeiras em locais improváveis sempre cheios.

A dança está a descentralizar-se, outras expressões artísticas também, abdicando da asa protectora de uma centralidade exagerada que, oferece segurança, mas sufoca por oferta em excesso.



"As coisas com o Rui [Lopes Graça] estão a correr tão bem que devem haver novas datas!"

Já o escrevi noutras ocasiões: o talento é, provavelmente, aquilo que mais me emociona. Assim, não é descabido perder-me, por vezes, em programas de talentos como o Got Talent onde surgem alguns dignos desse nome.

Sobre a dança nos concursos de talento há uma enorme controvérsia.  A dança, como arte, deverá sujeitar-se a concursos? Deverá envolver-se em competições? Seria relevante um concurso entre Miró e Picasso? Pessoa e Ruy Belo? A minha opinião está formada mas encontra excepções...

A custo da interioridade, aliada à falta de apetência do público para a dança, tornou a criação da Kayzer Ballet, não só uma aventura como uma luta onde vencerá o mais teimoso, o Ricardo Runa ou o falhanço. A jovem companhia não é brilhante mas é criativo, regular e, acima de tudo, corajosa e humilde. Essa mesma admirável humildade e luta contra o insucesso levou-a até, precisamente, ao Got Talent Portugal. Divulgar, encontrar novos teatros que queiram ter a companhia em apresentações, etc, foram os motivos e eles são nobres, tão nobres quando a humildade com que a Kayzer Ballet encara a sua arte, mantendo os pés no chão e recusando o estatuto de primas-donnas.


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Festival DDD - Dias da Dança

SEX 29 ABR / DIA MUNDIAL DA DANÇA

Os finalistas da escola artística Balleteatro, apresentam o espetáculo "Dança #3" na sexta, dia 29, às 21h, no Mosteiro São Bento da Vitória — Teatro Nacional São João.
 

Com a intenção de explorar as potencialidades dos Claustros do Mosteiro, a peça coreográfica nasce da ideia que existe um antes, uma história que a antecede - ela é já um terceiro momento de algo que aconteceu.
 

Entrada é gratuita


SEX 29 ABR / DIA MUNDIAL DA DANÇA

© Joana Cardoso Reis

Nas comemorações do ‪Dia Mundial da Dança‬, Dinis Machado apresenta, no Cine-Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, a sua mais recente criação, PARADIGMA — "uma dança de um exotismos de lado nenhum".
 

O espetáculo é apresentado sexta, 29, às 18h30, e sábado, 30 de abril, às 15h00.

Bilhetes 5,00 Eur


Esse Mundo lá longe

O último ano do Tua



Os portugueses, actualmente, são um povo com pouco Mundo. Parece que esta é uma afirmação incongruente, uma vez que cada vez se viaja mais, cada vez se emigra mais e o acesso é grande. No entanto, a verdade é que as viagens são, maioritariamente, para destinos de férias onde o pacote de "tudo incluído" ou os resorts escolhidos a dedo impedem, sempre, que o Mundo lá fora seja observado tal como é, tal como existe fora da bolha turística que, por cá também criámos para estrangeiro ver. Emigrando, as tacanhas necessidades de procurar a comunidade lusa e por aí encontrar o abraço, o apoio e o que faz falta, leva a que 40 anos de França, Luxemburgo ou Suiça, não cheguem para saber que países são aqueles fora das ruas dos "litle Portugal" espalhadas por aí. 

Os portugueses têm pouco Mundo e pouco país. Tirando as romagens ao Algarve ou à Serra da Estrela. Esquecendo os hotéis e montes alentejanos ou uma almoçarada "a norte", os portugueses não olham à volta e vivem o bairro, o bairrismo, os olhos no chão e a corrida para o metro. Vê-se umas coisas na televisão, uma espécie de realidade distante que lhe é colocada ao mesmo nível de uns longínquos refugiados bi-dimensionais.


Afirmar que o Douro, ou o Alto Douro Vinhateiro estará entre as dez regiões mais bonitas do Mundo é uma aformação que poderá ser feita por alguém que tem pouco Mundo. Assumo. Mas é. É também aquela região que demonstra bem a falta de Mundo dos portugueses que, de lá, pouco sabem, pouco conhecem e, diga-se, pouco se importam. "Tem vinho do Porto e um comboio, e depois?", imagino que se diga. Dessa forma, não será de estranhar que um qualquer Domingos Sequeira, fruto de uma campanha de marketing vitoriosa, tenha conseguido amealhar 600 mil euros para comprar um quadro que residirá, claro, em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Os portugueses, empresas incluídas, "comeram" a campanha, alimentaram-se nas televisões e primeiras páginas dos jornais e colocaram a "Adoração dos Magos" numa parede de onde dificilmente voltará a sair e será vista por uns milhares/ano. "Obrigado", regista o jornal Público, os portugueses mobilizaram-se.

A barragem do Tua continua a ser construída, mergulhando de forma incontornável um Património Mundial da UNESCO, composto por tamanha diversidade cultural que, digamos, apenas uma linha e um comboio bastaria para ofuscar qualquer Domingos Sequeira mas o que vimos, sobre o tema? Fogachos de pólvora seca que acabaram rapidamente. Os portugueses, as empresas, a comunicação social e o marketing estão longe; chegar ao Alto Douro dá trabalho, o MNAA fica ali mesmo, basta apanhar o metro. Propositadamente, deixo de fora os políticos e agentes culturais responsáveis, deixo de fora a EDP e empresas do ramo, igualmente pelo mesmo motivo: a acefalia vigente retira-os de qualquer equação que pretenda soluções ou evoluções; tratam-se de variáveis apenas utilizáveis em matérias ligadas a ficção científica ou semelhantes.


Pouco dado a petições ou crowdfundings, não resisti, no entanto, a deixar aqui o link (http://ultimoanodotua.pt/) de uma causa. Prefiro-a a Domingos Sequeira ou a qualquer petição sobre touradas. Prefiro-a porque, para mim, tipo de pouco Mundo, esta é a mais importante causa cultural das últimas décadas. Não espero grandes resultados, mesmo após a leitura, a vida continua, não há tempo. E depois "o Tua fica lá longe, a Síria também, e amanhã tenho que acordar cedo...". "É das regiões mais lindas do Mundo? Um destes dias passamos lá num fim-de-semana alargado..."

quarta-feira, 27 de abril de 2016

d'Orpheu

Nunca gostei do Mário.
Mas talvez esta seja uma declaração exagerada



O primeiro poema que li, teria uns 14 anos, foi de Almada Negreiros. Desde aí, um dos mais relevantes elementos do movimento futurista, ou modernista, no nosso país entrou-me no corpo e fez mossa até hoje. Permanece como a minha maior influência, é nascente de tudo o que se seguiu e, por arrasto, levou-me diretamente à sua obra e aos poetas d'Orpheu. Depressa dei por mim a ler toda a obra publicada de Almada Negreiros e viajar até Mário Sá Carneiro e, mais tarde, a entrar no Mundo de Fernando Pessoa. Curiosamente, nunca os consegui verdadeiramente separar, sempre os olhei individualmente mas à luz da revista Orpheu. Sem querer, puto como era, estava longe de perceber que, na verdade, eram mesmo inseparáveis. A poesia de Almada nunca foi, não fosse ela futurista, suave e líquida como a de Sá Carneiro ou Fernando Pessoa mas, talvez por isso, tenha sido importante encontrá-lo antes de tudo.

Serviu, esta entrada, para, de alguma forma, justificar a importância que teria que dar à exposição que decorre em Paredes de Coura - sim o Alto Minho tem uma intensa e interessante actividade cultural que não sobressai mais porque, enfim, centralismos - fundamentada nos 100 anos da morte de Mário de Sá Carneiro e que traça a profunda ligação entre Pessoa e Sá Carneiro. É correspondência trocada entre os dois e a visão clara das influências mútuas que, lá está, ficaram visíveis na revista Orpheu, por exemplo. Aqui Almada é um espectador. Ainda assim, trata-se de uma mostra comovente e imperdível pelo mais profundo sentir de dois dos mais importantes poetas portugueses de sempre.



Um grande, grande adeus do seu pobre Mário de Sá-Carneiro”.

Lê-se num bilhete amarelecido, de letra irregular, escrito e dirigido a Pessoa, momentos antes do suicídio do autor, em Paris. Lê-lo aqui arrepia, lido no manuscrito, presente na exposição, provocará o choro aos mais sensíveis.
"Mil Anos Me Separam de Amanhã", assim se chama a exposição, decorre num parque de estacionamento, assim, sem mais, sem mordomias ou mariquices, porque os d'Orpheu, sempre as dispensaram. Venham de lá esses vícios.



Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Só se fores burro...

... ou estiveres fora de Lisboa é que não vais.

Hoje, a troco de oito euros, a partir das 23 horas, no lisboeta Titanic Sur Mer, do inteligente Manuel João Vieira, João Peste e Luís San Payo juntam-se para ressuscitar os Pop Dell'Arte e recuarem até 1995 para recriarem, apesar das arteroses, o inesquecível "Sex Symbol". Haverá outros obrigatórios da banda que fez o favor de acontecer e fez o favor de estrear a Ama Romanta, etiqueta que ficará para a história como a nossa Factory. Lá em cima, Pedro Alvim estará atento.
Mas cuidado, é fácil apaixonarmo-nos pelo Peste, sempre foi e continua a ser. OK, devíamos estard e luto, o Prince morreu mas não foi de Peste, porque o Peste não sabia quem ele era e consta que o Prince também não conhecia o Peste, muito menos terá sido dela que morreu. A Ana Moura confirmará...

quinta-feira, 21 de abril de 2016

You're wise, Mr. Furnier

AC/DC com Axl Rose: “Mas quem é que não quer ver esse concerto?”, pergunta Alice Cooper


"É uma combinação tão única. Quem tiver bilhetes para esse concerto tem um bilhete dourado, porque quem é que não vai querer ver esse espetáculo?"

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A merda dos graus



Desta vez era Rui Lopes Graça o coreógrafo convidado.
O frisson instalou-se.
Perdera o Benvindo da Fonseca e agora o Lopes Graça.
Havia outros que se habituara a admirar e trabalhar com eles seria quase tudo, mas a merda da idade não deixava, a merda dos graus ainda não permitia.Fato após fato,com o rosa num passado que lhe parecia longínquo, sapatilha após sapatilha, pontas após pontas, suor após suor, lesão após lesão, os exames iam avançando com sucesso mas nunca o suficiente para, uma vez mais, estar no ano certo para absorver o Lopes Graça.
Restava-lhe esperar, restava-lhe ensaiar e um port-de-bras inesquecível. Talvez para o ano haja Paulo Ribeiro ou mesmo o Rui Horta. Afinal, dizem que o tempo passa a correr; serão só mais uns calos, mais uma dúzia de collants, mais um par de joelhos.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Quite while you still ahead



A entrada de Axl Rose para os AC/DC caiu como uma bomba no meio musical.
As opiniões não se fizeram esperar, abrindo barricadas pró e contra a entrada do líder dos Guns 'n Roses para a banda australiana.
Rose até seria a escolha correcta. Timbre, postura, qualidade e maturidade poderíam revelar uma escolha ideal para substituir Brian Johnson, mas isso simplesmente não é possível. Não será caso único mas em todos os anteriores as coisas não correram bem, aliás, só em Portugal tenho memória de uma mudança semelhante, por razões distintas, ter permitido à banda em causa aumentar sucessos e esquecer o passado, mal, quanto a mim. Foram os GNR que cresceram quando Rui Reininho tomou as rédeas até ali seguras por Alexandre Soares. Mas a dimensão dos AC/DC não é a dos GNR, talvez se aproxime dos Queen que passado décadas tiveram a coragem de testar, sem êxito mas com bilheteira, a inclusão de Adam Lambert na banda, ou dos Pink Floyd que nunca substituíram Roger Waters, os Joy Division que aceitaram a morte de Ian Curtis, os Rolling Stones seguiram sem Brian Jones ou dos Doors com Jim Morrison.
A verdade é que o próprio Brian Johnson não é um original, uma vez que já substituira Bon Scott, morto por excesso de álcool em 1980 e, antes disso, Dave Evans, esse sim the original, gravou o primeiro single da banda mas...foi demitido. Na altura, os AC/DC, que arrancaram em 1974, estavam em crescendo e as mudanças não terão sido notadas e, por isso, foram aceites e, no fim, acabou por correr bem. O caso agora é diferente, são 42 anos feitos de impressões digitais muito fortes de cada um dos membros, provavelmente incapazes de serem limpas ou postas de parte.
 


Os AC/DC são uma banda assombrada. Bon Scott morreu, Dave Evans foi despedido, Malcolm Young ficou demente, Phill Rudd teve problemas com a polícia e saiu e agora Brian está surdo. Mau demais para uma só banda que, no entanto, criou uma máquina tão grande que pará-la é quase impossível, só a quebra abrupta nas vendas o poderá fazer. Daí que o mais saudável talvez pudesse ser um fim honrado. Os Joy Division remanescentes transformaram-se nos New Order e o projecto não só funcionou como, tal como a banda anterior, tornou-se icónica. Talvez fosse altura dos sobreviventes dos AC/DC pudessem partir para um novo rumo deixando intacto o legado da mais lendária banda hard rock de sempre.
Provavelmente, a presença de Axl Rose durará apenas o tempo da tourneé europeia, numa espécie de balão de ensaio antes de passarem para os concertos norte-americanos. Depois o balanço será feito e a probabilidade de Axl manter-se é quase nula, até porque os Guns mantêm-se. E Brian pode regressar...nunca se sabe.
 

Mas e Axl? O que o motivou?
Não basta ter Slash, nem Slash tem pachorra para tudo, que salva uma banda como os Guns 'n Roses que, reconheça-se, teve um papel fundamental do renascimento do hard rock na década de 90. O virtuosismo do guitarrista apenas foi traído pela volatibilidade de um vocalista que tinha tanto de qualidade como de imaturidade. Desde aí, os Guns acabaram, caíram num poço, reergueram-se mas nunca mais foram os mesmos. O mundo tinha mudado, Axl tinha mudado mas nada seria igual, só Slash e só Slash não chega.
O desafio de integrar os AC/DC, mais do que golpe publicitário de Axl era, muito provavelmente, o concretizar de um sonho. Quantos recusariam integrar, nem que fosse por uma noite uma banda que serviu de inspiração, de referência? Não se pode levar a mal. Tenta, para o bem ou para o mal, mas tenta e tentar nunca pode ser censurável. E há ainda o benefício da dúvida, o quem sabe?
No vídeo que se segue, Axl tenta o Whole Lotta Rosie. Não têm a sonoridade dos AC/DC mas seria injusto dizer que Axl não cumpre...

E sim, os AC/DC (tal como os Cult) são referências minhas no que ao (hard)rock dizem respeito
 


 

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Miroslav Tichy: O fotógrafo imundo

O fotógrafo Miroslav Tichy apenas se tornou conhecido na República Checa recentemente, depois de ter sido reconhecido no estrangeiro. As suas fotografias, pouco usuais, foram exibidas em várias galerias de Londres, Nova Iorque e Zurique e, apesar da sua absoluta falta técnica e qualidade, os visitantes e os críticos ficaram impressionados. As fotos são agora vendidas por valores que ascendem aos dez mil euros.


Com quase 80 anos, Tichy foi sempre olhado como o verdadeiro excêntrico pelos vizinhos em Kyjov, uma pequena cidade checa. O seu trabalho reflecte a obssessão pelo corpo feminino. Mas enquanto outros fotógrafos pedem às mulheres para posarem, usam os melhores equipamentos e muitos cuidados no arquivamento das fotos, Tichy faz o oposto.
Ele costumava esconder-se nos arbustros e tirar fotografias de roupa interior de mulheres e raparigas com as suas câmaras feitas artesanalmente. As fotos, depois de deselvolvidas, eram deitadas fora e Tichy não queria mais saber delas.


“Todas demonstram observações muito cuidadas e atentas das mulheres de Kyjov, no dia-a-dia e nas trivialidades que fazem. Mas depressa apercebemo-nos que essas trivialidades, como alguém sentado num banco, mulheres à espera do autocarro, alguém a tirar a t-shirt numa piscina são, de alguma forma, extraordinárias. Tichy conseguia dar a estas banalidades um sentimento excepcional e raro. Apenas uma parte de um corpo de mulher, nas suas fotografias, pode parecer algo esotérico. Há imensas revistas que oferecem muito mais nudez do que Tichy mas ele é diferente. As coxas de uma mulher, entre os joelhos e a saia ou um fato-de-banho noas suas fotos parecem, de alguma forma, misteriosas”, diz Radek Horacek, o director da Brno House of Art que, actualmente, tem patente uma exposição do trabalho de Tichy.


“É como se um rapaz de onze anos se apaixonasse, roubasse uma foto da rapariga da classe e a colocasse no seu diário. Tichy até fazia esboços e desenhava frames com lápis ou caneta. Algumas fotos foram tiradas da televisão, algumas foram largadas por aí. Alguns românticos dizem até que há rastos de pequenas mordeduras de ratos nas fotos deixadas numa total confusão”.
Nos anos 40, Tichy estudou na Academia de Artes de Praga mas depois da chegada do comunismo, em 1948, à Checoslováquia, ele desistiu e regressou à Moravia. O artista solitário começou a pintar, a desenhar figuras e finalmente passou para a fotografia de forma defintiva com um único mote: mulheres. Nos anos 60 chegava a fazer cerca de 90 fotos por dia. Desconhecido e sem ser notado ele comportava-se como um voyeur tentando captar um precioso momento.


“Quando eu era um miúdo a minha avó costumava dizer-me: 'lava as mãos porque senão ficarás igual ao Mirek Tichy'. Para a minha avó era um exemplo proibido. Para mim sempre foi alguém magnético”, conta Roman Buxbaum, a pessoa que deu Tichy a conhecer ao Mundo. O amigo de infância do fotógrafo emigrou para a Suiça com a família, passados muitos anos regressou, descobriu as fotografias e começou a exibi-las pelo Mundo.



“Hoje em dia há muitos artistas a fazer fotografia. Eeles têm o mais moderno e digital equipamento e o melhor software de computador. Todos tentam fazer com que as suas fotos pareçam cruas, tentam torna-las documentos de uma realidade, mas conseguiremos acreditar num universitário de trinta e poucos anos? É simplesmente impossível, em particular se o compararmos com o Miroslav Tichy. Ele esconde-se numcasaco sujo, mal-cheiroso e velho atrás de muros e arbustros – tira fotografias de fragmentos de nudez feminina ou passos de uma mulher que desce a rua...”








CREDITS:
Miroslav Tichy
Wired

terça-feira, 12 de abril de 2016

Ich bin...

Os bares e discotecas de Berlim
reuniram 40 mil euros para os refugiados


Quando centenas de alemão deram as boas-vindas aos refugiados, na Estação Central de Munique, em Setembro último, a resposta do país à crise dos refugiados tornou-se um exemplo claro da decência humana por todo o Mundo.

De acordo com A BBC, a Alemanha garante asilo, actualmente,ao maior número de refugiados da Europa e a compaixão germânica parece ter chegado à famosa vida nocturna alemã. Uma nova campanha, chamada "Plus 1", juntou 40 mil euros para os refugiados, através de uma taxa adicional de 1€, nas entradas de bares e discotecas.

A iniciativa começou ja em Outubro, e mais de 80 locais aderiram às causas "Sea-Watch", "Moabit helps!" e "Berlin Refugees", numa contribuição que custa consideravelmente menos que uma cerveja, pelo que parece ter chegado para ficar na cena noctívaga alemã. A ideia é agora tentar que a "Plus 1", mudando ou não de nome, possa alastrar pelas noites europeias, nomeadamente, londrina, parisiense e, porque não, portuguesa.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A clássica rigidez

Nos ensaios para um novo espectáculo, habituada à rigidez feita leveza, pedida pela dança clássica reforçada pelo ênfase na linha do corpo obrigada por Enrico Cacchetti, defensor da repetição até à exaustão, a bailarina confronta-se com os desafios impostos pela adaptação aos furiosos anos 20/30, reinado do charleston, do swing e da proposta Gershwin a levar à Casa da Música.
"São os movimentos, as flexões do corpo, dos ombros...", constata enquanto revê mentalmente a coreografia que confunde as contagens com ups 'n downs. A cedência do corpo aos movimentos de um estilo que não pede o stiff clássico mas impede o lazy contemporâneo é trabalho de meses. "Espectacular mas complicado", reconhece.


"It's always possible to create something original"
- George Gershwin


"Terpsícore é uma deusa ciumenta"
-Enrico Cacchetti

domingo, 3 de abril de 2016

Fichas na mesa

 A sujidade de Marta e o precipício de Maria



O cenário musical português raramente muda muito. Fases de maior e melhor produção sucedem-se a outras inversas, no entanto, as revoluções nunca são profundas e longe vão os tempos em que um Chico Fininho provocava um vendaval imenso nas sonoridades que irrompiam pelos anos 80 do século passado.

Hoje não há bandas a sério ha, dizem eles, projectos, porque o voracidade dos tempos impede que existam bandas que lutam por um lugar ao sol e insistem no que acham estar certo; agora se não cola passa-se ao projecto seguinte.


Ainda assim, é bom reconhecer alguns nomes contemporâneos na música nacional em quem vale a pena apostar muitas ficas; não todas porque o risco é tão grande como aquele que corri quando garanti a pés juntos que  Norah Jones e Joss Stones eram ganhos garantidos. Não foram, o talento está lá os percursos perderam-se. Por outro lado, já me arrependi em ter apenas sussurrado futuros sem ter empurrado as fichas para a mesa. Clã ou Amy Winehouse foram sussurradas mas o pé manteve-se atrás.

Actualmente há dois projectos nacionais que acompanho religiosamente e em que coloquei um balde cheio de fichas: Mirror People e Marta Ren & The Groovelvets. Antes de tudo por duas vozes femininas que considero serem as melhores e mais surpreendentes do momento; Marta Ren e, no caso dos Mirror People & The Voyager Band, de Maria do Rosário. E ambas vão além das vozes, mergulham na postura e presença quase perfeitas para encabeçarem estes... projectos.



Se Marta Ren já tem muito caminho para trás, desde os Sloppy Joe, mantendo-se quase sempre fiel a um soul-funk continuamente melhor tema após tema, já Maria do Rosário abraçou os Mirror People quase por acaso e pelo ouvido clínico de Rui Maia (X-Wife) o inventor de um projecto que, pelo feitio irrequieto de Maia, temo poder não resistir ao tempo. Mas Maria do Rosário resistirá, neste ou noutro modelo, é disso que precisamos.

Marta Ren e Maria do Rosário são, assim, as minhas apostas para um futuro próximo e risonho que nos fará acreditar que nem tudo é marasmo em tempos de projectos tão curtos como arrojados, muitas vezes demasiado curtos e arrojados para que consigam maturar e criar o suficiente calo no nosso ouvido.



Sobre o mais recente trabalho de Marta Ren & The Groovelvets, o "Stop, Look & Listen", o jornal Público dizia, há tempos, em título que "a soul de Marta Ren é suja, grande e gorda". Na verdade o processo criativo que envolveu a procura dessa sujidade, quase vinílica, foi moroso mas valeu a pena e culminou com um disco onde Marta mostrou que só há um caminho: a Daptone Records, ninho único da soul, tal como a BlueNote dá guarida ao jazz e a Deutsche Gramophonne acolhe a clássica - lembram-se das salvações chamadas 4AD, Factory e até Ama Romanta?. O "Stop, Look & Listen" é proposta regular nas rádios internacionais, sobretudo, as de raíz soul-funk, mas falta um raide aos EUA ou um nome-chave que a "adopte"; Charles Bradley seria o sonho.

Já "Voyager", onde nasce Maria do Rosário, é resultado da constante instabilidade de Rui Maia que, um dia, quis escrever músicas para a pista de dança; já ninguém as faz. Maria do Rosário foi a voz que ele precisava e depois de "Voyager", passou a ser a voz que os Mirror People precisam e nós queremos. Rui Maia não precisa que o adoptem, Maria também não, mas seria bom que, como Josh Stone e Norah Jones, os percursos não se perdessem, os projectos não se sucedessem de forma tão vertiginosa que deixassemos de dar por ela, algo difícil de suceder.